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segunda-feira, 5 de abril de 2010

Reflexos do cinema nos tempos modernos

Charlie Chaplin, em Tempos Modernos, marcou na história do cinema com o processo dinâmico da relação do homem com seu trabalho.


Com ironia e graça de seu talento, ele transcendeu a uma reflexão de uma sociedade anestesiada pelo emergente e grandioso capitalismo.

Também, com maestria, Chaplin revelou, para a época, um afortunado personagem totalmente inserido e aniquilado pelas gulosas máquinas. Foi uma obra que estreou a trajetória de lutas, conquistas e até sentimentos de amor.

Trazendo esta obra à atualidade, observamos a reificação do homem por traços dinamizadores pelos excessivos conflitos existenciais, que acabam se confundindo com os fatigantes processos mecanizados de reprodução, refletindo no homem uma conflituosa dúvida por não saber mais o que realmente deseja.

E o cinema, de forma mágica, reproduz histórias, trajetórias e idéias deste processo dinamizador. Ele entra aparecendo como máquina, projetando telas, mas revela à massa o espelho do que muitas vezes não consegue ser visto ou dito por outro meio. Ato notável e oportuno para reproduzir imagens - nobre façanha a do diretor e ator, totalmente contaminados pelo ludibriante poder da máquina que se projeta também ao mundo, modificando-o também.

Neste filme, o personagem também se projeta, principiado pelo trabalho excessivo, desmensurado e desmenbrado a dinâmica taylorista e de sentimento corporativista minado pelo capitalismo. Nele, o homem chega até a se confundir com a máquina e seu valor restrito à quantidade do que produzia e não a qualidade do que fazia. A produção sistemática da mesma coisa é considerada sem nexo. E este processo, de certa forma, reflete no pensamento e ações humanas. Da mesmo forma, hoje, é projetodo ao trabalhador.

Olgária Matos (2006), ao endereçar cartas ao Arqueólogo do Futuro, esboça seu texto versando sobre a nova dinâmica temporal como artifício anfetamínico contra o desempenho do homem na nova sociedade tecnológica. Nele, a autora provoca uma nova proposta de dinamismo cultural promulgada pelos radicais e estudantes críticos contra o pragmatismo. Para ela, a trajetória por qual passavam perspectivas e condições no processo histórico de construção do homem desde a Revolução Francesa, a partir do eixo existencialista, vem sendo provocada e diluída pelas incertezas nos processos dinâmicos técnico-evolucionistas. O tempo é um fator crucial nesta construção do homem com ele mesmo, com seus desejos ou desencantamentos, e o pior, na corrida contra o lento trabalho excessivo. A idéia de “trabalhar menos” e lucrar mais é uma visão distorcida que não coincide com o real e atual mercado de trabalho. O fato é que, para se ter algo, é preciso trabalhar muito. Assim, o homem permanece sem escolhas. Neste universo, o que antes se lutava e obtinha como conquista, perdia agora o sentido com os avanços, que ora tinha força produtiva, ora, destrutiva. É o verdadeiro processo de “reificação de si , para “perceber em si uma vida sem valor”, vivendo, portanto, uma nova era de “desvalorização de todos os valores” diante da imensa força contaminadora do dinheiro.

Enquadrado em vários contextos e, numa perspectiva epistemológica, o filme reproduz o processo de alienação cultural, no qual o homem vive do e exclusivamente para o trabalho, mas subexiste de sua essência, perdendo a noção de valor e de prioridades.

Sem idealismos, comum a todas as abelhas que fazem cegas o mel, pelo próprio ato mecânico e total sem questionamentos das mesmas abelhas, o trabalhador alienado, embora especializado e capacitado para as dimensões do trabalho, jamais será o arquiteto de idéias projetivas. Este trabalhador jamais contribuirá para a complexa construção do mundo histórico. Sempre pensará assim, o senhor das idéias, construtor de histórias, escultor do mundo, diante da cultura do mais vil trabalhador da massa.

Os excessos deste processo atrapalha o tempo essencial de cada um. Enquanto o homem se ocupa em reproduzir excessivamente o ritmo da máquina, ao mesmo tempo se esquece de perceber seus reais valores substituídos pela aquisição do dinheiro. São razões desmensuradas de práticas sem propostas que se processam sempre com o início, mas sem conseguir ver, de forma saudável e tranquila, o seu fim.

Envolvido com o trabalho, o homem se transforma, passando, então, a ser o desconhecedor das relações/situações em seu dia a dia, com o que vive e pensa fora delas.

Da mesma forma, vive o operário que, além de estar intrinsecamente retido no tempo, é sugado pela máquina e o relógio que lhe rouba a força, mas garante-lhe o salário seguro.

Inserido no mundo, no início, com sonhos, fantasias e perspectivas de crescer, motivados pela esperança de mudança para uma vida melhor, acaba não encontrando sentido no trabalho, abdicando, aprendendo e se acostumando a viver sem sonhos.

Infelizmente, o nosso sistema, ainda taylorista, vem predominantemente se enraizando no pensamento do gestor. Na atual conjuntura, o homem consciente, não alienado, não serve, não existe, e só contribui para inflamar o processo dinâmico de crescimento tecológico em favor da redução do custo, acompanhado de mais produção. Assim, ele só será totalmente dispensável e inútil, quando suas idéias forem construtivas, produtivas e inovadoras. E aí, sim, ele poderá ser comparado às máquinas!

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